Ebola
Segundo a definição do CDC (Centers for Disease Control and Prevention U.S. Department of Health and Human Services), a febre hemorrágica Ebola é uma doença severa com frequentes casos fatais em humanos e primatas, que surge esporadicamente desde seu conhecimento em 1976. Seu agente etiológico é um filovírus. Os sintomas se caracterizam por febre, dor de cabeça intensa, astenia, mialgias, seguidos de vômitos, dor abdominal, diarreia, faringite, conjuntivite, hemorragias. A transmissão se faz de pessoa a pessoa e os sintomas aparecem entre dois dias há duas semanas após o contato com um doente. O vírus é detectado em todas as secreções do doente, pode ser transmitido também pelo contato sexual ou por meio de seringas não esterilizadas. A taxa de mortalidade está em torno de 60 a 88% dos casos. O diagnóstico é feito pelo método ELISA, detectando antígenos e anticorpos específicos.
Em 2001, na revista Gazeta Homeopática de Caracas foi publicado um trabalho intitulado “A Homeopatia tem como enfrentar a infecção pelo vírus Ebola” cujo autor Leonid Lucenko, descreve as fases da doença e o gênio epidêmico da doença. Descreve que a primeira fase da doença é muito semelhante ao quadro clínico da dengue e da gripe com os seguintes sintomas: febre, debilidade, cefaléia intensa e mialgias. Foram repertorizados os seguintes sintomas, debilidade com febre, febre com calafrios, cefaleia durante calafrios, cefaléia durante o calor febril, dores nas extremidades durante calafrios, e dores nos membros durante a febre. O resultado da repertorização foi:
Arsenicum;
Bryonia;
Natrium muriaticum;
Pulsatilla;
Rhus toxicodendrom e
Sulphur.
Descreve que na fase inicial da infecção pelo vírus ebola, o profissional deverá pensar em qualquer um destes remédios, mas principalmente em:
Arsenicum album;
Rhus-toxicodendrom.
Na segunda fase da doença o quadro se parece com o cólera, e foram repertorizados os seguintes sintomas, vômitos e diarreia simultâneos, colapso depois da diarreia, colapso depois de vômitos e febre durante os vômitos. Aparecem Arsenicum e Veratrum álbum.
Na terceira fase da doença, foram escolhidos os sintomas, hemorragia por orifícios do corpo, sangue não coagula, septicemia. O resultado da repertorização foi:
Lachesis;
Crotalus horridus;
Bothrops lanceolatus e
Phosphorus.
Na fase da convalescença devido o emagrecimento, a falta de calor vital, dor e ardores, transpiração fácil, apetite aumentado estariam indicados:
Psorinum;
Sulphur;
Kali carbonicum;
Natrium muriaticum e
Tuberculinum.
Chega a conclusão de que o gênio epidêmico da infecção pelo vírus Ebola é Arsenicum álbum.
O trabalho tem uma conotação de um estudo teórico sobre uma doença epidêmica, mesmo que sua ocorrência tenha sido no Zaire e Sudão, mas discute que o risco de se levar o vírus através de um individuo infectado no mundo moderno é rápido, devido o encurtamento das grandes distâncias.
Dengue
É uma doença causada por um flavivírus, RNA, com quatro subtipos: 1, 2, 3 e 4, tem distribuição mundial.
O primeiro trabalho que analisaremos é um trabalho de meta-análise que foi publicado no ano 2000 na revista Homeopatia, volume 65, em que foi realizado um estudo do quadro clínico da dengue de três publicações e as repertorizações foram feitas em busca dos medicamentos que surgem com maior frequência nestes trabalhos.
A primeira repertorização feita à partir da classificação da Organização Mundial de Saúde foram escolhidos os seguintes sintomas repertoriais:
Os remédios que cobriram a maior parte dos sintomas e mais pontuadas foram: Natrium muriaticum (9/20);
Arsenicum álbum (8/15);
Pulsatilla (8/15);
Eupatorium perfoliatum (7/18);
Bryonia (7/14);
Nux vomica (7/14);
Rhus toxicodendron (7/13);
Lycopodium (7/11);
Belladona (6/13);
Ignatia (6/10).
Outra análise de três trabalhos que descreviam os sintomas da dengue os sintomas que coincidiam foram:
Os remédios repertorizados foram:
Natrium muriaticum (5/13);
Arsenicum album (5/11);
Pulsatilla (5/10);
Lycopodium (5/8);
Eupatorium perfoliatum (4/10);
Rhus toxicodendron (4/9);
Belladona (4/9);
Nux vomica (4/8);
Bryonia (4/7);
Ignatia amara (4/6);
As conclusões que o autor chega é de que tantos os trabalhos sobre a dengue, feito por homeopatas e não homeopatas, tem se buscado os sintomas da doença e não os sintomas dos doentes. Também que a coincidência dos sintomas em todos os trabalhos faz com que os remédios homeopáticos sejam os mesmos. Recomenda Natrium muriaticum como remédio preventivo em epidemias ou surtos de dengue.
O segundo trabalho trata de uma repertorização dos possíveis sintomas pelo quadro clinico da dengue e não um estudo de casos da dengue. O autor seleciona 20 remédios e faz uma discussão sobre os mesmos. Os remédios descritos foram; Bry, Rhus-t, Nat-m, Sulph, Merc, Ars, Bell, Thuya, Phosp, Puls, Calc, Caust, Nux-v, Lyc, Aco, Com, Fer, Nit-ac, Chin, Lach. É um trabalho que não traz muitas novidades, pois não apresenta nenhuma caracterização de uma epidemia para se buscar o gênio epidêmico.
REMÉDIOS UTILIZADOS:
Arsenicum album: é indispensável à agitação física e mental, com ansiedade intensa, fraqueza, frieza no corpo e sede de pequenas quantidades de água e medo da morte. Em casos de gastroenterite aguda apresentam dores gástricas e abdominais ardentes, vômitos violentos. Tosse seca, dilacerante, com escarros pouco abundantes e espumosos, fôlego curto, dificuldade respiratória, engasgos, dispnéia e ataques de sufocação, algumas vezes com suor frio, constrição espasmódica do tórax ou da laringe, angústia, grande fraqueza, frio no corpo, dor na boca do estômago e tosse paroxística.
Os sofrimentos ocorrem principalmente ao anoitecer, na cama, à noite quando deitado; no tempo ventoso, frio e fresco, ou no calor de um aposento; ou estando agasalhado, fatigado ou irado, ao caminhar, ao mover-se, e mesmo ao rir. Respiração ansiosa, estertorosa e ruidosa.
Veratrum album: É um dos medicamentos que se assemelham muito ao quadro clinico da hantavirose que evolui rapidamente para um estado de colapso com resfriamento extremo, cianose de extremidades, prostração rápida, acompanhando-se de vômitos violentos e abundantes. Tosse cavernosa, em longos acessos, com eructações dor no abdome. A tosse piora em um quarto quente, após ter bebido água fria. Sensação de contrição no peito, palpitações e ansiedades. Pulso rápido, fraco e irregular. Prostração completa e rápida diminuição da vitalidade, principalmente depois de vomitar ou da diarréia e na cólera. Vômitos copiosos e náusea; agravada por beber e pelo menor movimento. Sede de água fria, mas é vomitada logo que é engolida.
Ammonium carbonicum: apresenta grande prostração, estados de colapso. Intensa fraqueza e falta de reação ou reação lenta. Tendência a hemorragias de sangue escuro, dispnéia e opressão com palpitações, piora ao menor esforço. Tosse irritante, seca, incessante, edema agudo de pulmão.
Ammonium carbonicum afeta muito frequentemente as mucosas dos órgãos respiratórios. Margaret Tyler, em Retratos dos Medicamentos Homeopáticos descreve que “Ammonium carbonicum é um medicamento de condições severas, até mesmo desesperadoras”.
Ammonium carbonicum é descrito nas Matérias Médicas Clinicas como um remédio que tem um grande estado exaustão, afeta o coração e pulmões. Usado pelos médicos antigos em pneumonias. Segundo Kent, Ammonium carbonicum apresenta um estado análogo ao envenenamento sanguíneo.
Crotalus horridus: apresenta prostração profunda, hemorragia por todos os orifícios. Kent diz: “Crotalus está indicado nas doenças mais graves, do tipo pútrido, que surgem numa rapidez incomum, chegando ao estado infeccioso em muito pouco tempo”. Insaciável sede queimante. Eructações cáusticas, ácidas, rançosas. Náusea ao movimento, vômitos biliosos. Vômito verde-escuro, imediatamente após deitar do lado direito ou de costas. Vômito preto. Freqüente queda e desfalecimento, sensação de fome no epigástrio com tremores e sensação de uma vibração que desce. Necessidade de estimulantes. Dor angustiante, inquietude, sensação de frio, pulso fraco. Não pode tolerar roupas em torno do estômago e hipocôndrio. Hematêmese, sangue não coagula.
Hyoscyamus niger: Vômitos com convulsões; hematêmese; câimbras violentas, aliviadas vomitando; ardência no estômago; epigástrio sensível. Períodos de sufocação. Espasmo, forçando a inclinar-se para a frente. Tosse seca ,espasmódica de noite ( piora deitando, melhora sentando na cama), devido a coceira na garganta, como se a úvula fosse comprida demais. Hemoptise. Fala de uma maneira incoerente, sem sentido, balbuciando, trocando de um tema para outro, dizendo coisas ridículas apressadamente e com voz, às vezes, tipo ébria. Medo de ser envenenado.
Lachesis: Prostração mental e física, irritabilidade, deseja falar o tempo todo, grande sensibilidade do estomago que fica dolorido ao toque, sensação de sufocação pior estando deitado, procura sair do leito e ir para uma janela. Tosse seca e dilacerante, durante o sono, com perturbações cardíacas.
Mercurius: sede intensa, piora noturna, suores profusos. Tosse com ânsias, vômitos e asfixias. Dor no tórax ao tossir, como se fosse estourar, pontadas no tórax ao tossir, espirrar e respirar. Dispnéia ao menor esforço.
Opium: todos os transtornos acompanhados de grande estupor, não sente dor, não sofre nada, não se queixa de nada e não pede nada. Respiração estertorosa. Dor precordial com grande ansiedade, tosse seca violenta, pior a noite, depois de descansar, ao engolir, ao suspirar. Tremores nas extremidades. Medicação importante para transtornos após susto.
Phosphorus: Ação profunda sobre o sangue e sistema nervoso. Prostração profunda com irritabilidade. Agitação continua, nunca está tranquilo, sede inextinguível por água fria que é imediatamente rejeitada quando aquecida no estomago. Náuseas que pioram ao beber água gelada, vômitos a todo instante. Sensação de vazio no estomago. Tosse com sensação de opressão considerável, sensação de aperto no peito e dores ardentes. Deve sentar-se em seu leito para expectorar. Palpitações com grande ansiedade. Tendência a hemorragias.
Pulsatilla: as dores são erráticas, passando rapidamente de um lugar para o outro. Aversão ao calor e desejo de ar frio. A tosse seca à noite ou à tarde, após estar deitado, obrigando o doente a sentar-se para obter alívio, reaparecendo quando o doente torna a deitar-se. Palpitações estando deitado do lado esquerdo. Estases venosas, retardamento da circulação de retorno.
Não foi possível através desta breve análise individualizar, encontrar o que havia de característico neste surto de hantavirose, pela dificuldade de encontrar o que há de peculiar e característico nestes trinta e oito casos de hantavirose. Mas podemos concluir que para a busca do gênio epidêmico será necessário desenvolver formulários de coleta de dados adequados e consulta homeopática com os enfermos para encontrarmos o que há de característico e peculiar em cada caso e assim individualizarmos aquele surto ou epidemia. Na lição XXXII em Filosofia Homeopática, Kent descreve:
“Uma verdadeira prescrição homeopática não pode basear-se na patologia ou na anatomia patológica; pois as experimentações nunca foram levadas a tais extremos. O que a patologia nos dá são os resultados da doença e na a linguagem da natureza, que faz apelo ao medico inteligente. O verdadeiro tema que se deve conhecer é a sintomatologia. Ninguém, que só conhece a anatomia patológica e os sintomas patognomônicos, será capaz de prescrever homeopaticamente. Além de habilidade diagnóstica, o médico tem que possuir um conhecimento específico, isto é, ele tem de conhecer a forma de expressão de cada uma e de todas as doenças. Deverá saber exatamente como cada doença se expressa em linguagem, no aspecto e nas sensações. Como exatamente cada remédio afeta a espécie humana na memória, na inteligência e na vontade, pois em nenhuma outra área ele atua tão poderosamente como sobre a mente…” (KENT,2002, p.255-256).
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